30 agosto, 2008

Discurso de aceitação de Barack Obama

Todos viram, nem seja pelas noticas na televisão, o enorme sucesso deste discurso do senhor Barack Obama?
Caso não tenham visto vale a pena ver... Isto independentemente das orientações políticas. Deixemos isso de lado neste caso.

Podem ver no YouTube através da URL:
http://www.youtube.com/user/barackobamadotcom?ob=4

Gostaria de saber a opinião de cada um de vós sobre o que torna este discurso um GREAT Speech.

João de Mendonça

2 comentários:

João de Mendonça disse...

O que mais me impresisonou neste discurso foi:
1- Como fala e o que não se ouve
2- O que ele faz
3- Como estrutura o discurso
4- Preparação

O que não se ouve... o silêncio ou as pausa. Barack Obama possui uma voz poderosa e retira proveito dela através de mudanças de tom, ritmo (embora suaves) e pitch. As pausas acentuam bastantes os pontos que ele quer salientar e permitem que o público aplauda... ou sinta que é o momento de descontrair a sua atenção. (Também é necessário para um discurso deste tamanho- 45 min)

O que ele faz...movimenta-se sem sair do lugar e usa as mãos para apoiar o que diz. Reparam que ele está constantemente a "varrer" o seu público? Mas pará em cada local durante algum tempo. Excelente. As suas mão nunca se fecham. Mostra-as abertas para transmitir veracidade e naturalidade. Algumas vezes, usa o apontador e outras o gesto do pormenor (polegar com indicador e os restantes fechados). O primeiro é sinómimo de agressividade mas ele está a usá-lo correctamente para chamar a atenção para o público - "TU...". O segundo é sinónimo de detalhe e muito positivo. É como dizer "eu analisei isto, vêm?"

A estrutura é basicamente: aceito, agradeço, uso da sua história para criar empatia com o público (mais!?), os pontos que pretende salientar e sua diferença com John Mccain , novamente empatia e motivação para fechar com o exemplo de Martin Luther King.
Usa em cada ponto, exemplos vivos e muitas vezes pessoais tornando-se mais próximo do que diz e ao mesmo tempo querendo dizer "Eu sei MESMO o que isto é"

Por fim, ele parece não ter guião apesar de ter um laptop á frente. Parece nunca olhar para ele. Está sempre a olhar o público. Não perde pitada, certo? Ah!

Unknown disse...

O link do post inicial já não aponta para esse discurso, mas gostava de comentar o discurso de vitória de Barack Obama de vitória de 4 de Novembro.

No site do New York Times tem a transcrição do discurso, o que ajuda a análise.
http://elections.nytimes.com/2008/results/president/speeches/obama-victory-speech.html#


Acho que este é um discurso fantástico do novo presidente dos EUA porque:

- Tem apenas 17 minutos, o que para a importância do momento e o tamanho da audiência é bastante reduzido.

- A entrada não é muito forte, mas o "Hello Chicago" é suficiente para fazer explodir a plateia ansiosa.

- Sem mencionar a questão de ser o primeiro presidente negro eleito deixa essa mensagem subentendida nas primeiras frases.

- Faz a ponte com todos os ouvintes referenciando algo que todos têm em comum, o imaginário colectivo de todos os americanos, mencionando os pais fundadores da América e a ideia de que na América qualquer pessoa pode alcançar o que ambiciona.

- Agradece aos votantes de forma poética.

- Dá uma palavra para todos e que não exclui ninguem, nem mesmo quem contra ele se bateu na campanha eleitoral.

- Agradece a mensagem de McCain e elogia-o de forma pouco habitual em adversários políticos (o que naturalmente toca os Republicanos)

- Agradece ao seu vice-presidente, mas de forma pouco marcante. (O que também tem leituras políticas...)

- Agradece à esposa com entuação e entusiasmo crescente, a pedir uma grande ovação do público.

- Tem uma palavra para as filhas e tem o primeiro (e único) momento de humor ao dizer que vão poder ter um caozinho na Casa Branca (referência ao que se tinha passado na campanha em que as filhas disseram numa notícia que o motivo porque mais queriam que o pai ganhasse era que na Casa Branca iam poder ter um cão como os anteriores presidentes, o que não acontecia na casa actual).

- E após o riso, o primeiro momento emocional do discurso ao referir a avó que morreu durante os últimos dias de campanha.

- Agradece às irmãs pelo nome e aos demais irmãos e irmãs (do Quénia) que não são explicitamente mencionados, uma vez que têm nomes impronunciáveis e poderia ser mal interpretado nos EUA. Mas foi o suficiente para a festa no Quénia...

- Seguem-se os enormes elogios à sua equipa de campanha (ao contrário do que aconteceu com o vice-presidente).

- Termina os agradecimentos voltando a dar enfoque a todos os que ouvem, dando-lhes a todos eles a vitória, numa grande demonstração de humildade.
Dependendo dos ouvintes, é o segundo momento emocional do discurso.

Passaram 6 minutos e terminaram os agradecimentos
35% do tempo total

- Faz a ponte com o ínicio do discurso voltando ao tema do sonho americado e depois recentra o discurso nos eleitores, nos que contribuiram para a campanha, nomeadamente os que deram montantes baixos por dificuldade económica, e volta a lhes atribuir a vitória.
Fala dos soldados a cumprir missão no estrangeiro para defender os que ficam em casa a dormir seguros em casa (referência implícida à publicidade de Hillary muito badalada durante a campanha: Quem vai atender o telefone na Casa Branca às 4h da manhã).

- Começa a falar de economia e a preparar o público para a parte temática do discurso.

- Fala da Guerra, de Economia, de Educação, de Energia e da situação financeira em pouco mais de 4 frases. É mais o que deixa subentendido do que o que de facto diz.

- Fala das dificuldades que se avizinham e prepara os americanos para as suas próprias falhas baixando as enormes expectativas que sobre ele estão colocadas.

- Fala da união entre os americanos e referencia Lincoln (Republicano) e volta ao tema de abertura do sonho americano.

- Referencia de forma poética os que pelo mundo inteiro acompanham o que nesse dia se passa na américa, aumentando a auto-estima da América e dando importância ao momento e valorizando o ideal americano.

- Referência ao tema da mudança que foi o tema central da sua campanha.

- Aos 14 minutos e 59 segundos do filme, cerca de 13 minutos após ter iniciado o discurso, Obama termina a segunda parte do discurso - a secção temática que durou 7 minutos (40% do total do discurso)

- Inicia agora os 25% que restam a parte mais forte e emocional do discurso, aquela que vai fazer com que o discurso fique marcado na memória de todos os que assistiram àquele discurso histórico.

- Barack Obama refere uma eleitora em concreto de entre os milhões que fizeram fila para votar nessa eleição.

- Fala de uma eleitora completamente desconhecida chamada Anna Nixon Cooper que do comum americano tem duas característica destacáveis: tem 106 anos e é negra.
Qualquer pessoa com 106 que ainda consegue ir votar gera imediatamente uma emoção positiva em todos os que ouvem.

- Obama pega nesse exemplo concreto e sintetiza a essencia da sua mensagem política.

Anna Nixon Cooper nasceu apenas uma geração após a escravatura, numa altura em que não existiam carros, nem aviões, nem toda a tecnologia que hoje conhecemos.
Obama percorre a história salientando sucintamente pontos marcantes na história americana, como a América superou os problemas que enfrentou nos últimos 100 anos, intrecalando sempre com o seu slogan de campanha "Yes we can".

Esta mulher negra de Atlanta viu mais mudança na América do que alguma vez alguém imaginou possível no final do século XIX. E nestas eleições esta centenária votou num ecran táctil...

Pergunta Obama: Se isso aconteceu em apenas 106 anos, que mudanças verão as minhas filhas nos próximos 100 anos se lograrem viver tantos anos?

Com uma referência destas toda a gente fica envolvido e acredita na mensagem de que a mudança é possível!

Obama correu um sério risco com esta referência em concreto. É que a probabilidade de Anna Nixon Cooper morrer de ataque cardiaco ao ouvir este discurso era muito grande!
Espero que a sua equipa tenha garantido que a senhora não ouvia este discurso em directo, porque caso contrário o discurso poderia ter consequências dramáticas no dia seguinte.

Obama termina o discurso inesperadamente com o um simples e tradicional (para americanos):
Obrigado, que Deus vos abençoe e que que Deus abençoe os Estados Unidos da América.

Acho que o fecho poderia ser mais forte, mas por esta altura já todos estavam a enxugar as lágrimas...