22 novembro, 2007

Aprender não é só aquilo que entra pelos ouvidos

O teórico da aprendizagem, Etienne Wenger, defende as "comunidades de prática" onde se aprende num contexto social. Afinal, é o que se faz nos clubes Toastmasters!

"Foi este consultor suíço quem cunhou, juntamente com Jean Lave, a expressão "comunidades de prática". Assegura, em entrevista ao Jornal de Negócios, que há cada vez mais pessoas em todo o mundo interessadas em saber como se possibilita a criação de novos grupos sociais.

"- Considera-se um teórico da aprendizagem social. Nota um maior interesse neste tema em termos mundiais?
- Sim, com efeito. As pessoas começam a perceber que aprender não é só aquilo que entra pelos ouvidos, é também uma característica dos grupos sociais. A aprendizagem é um processo inerentemente social e não pode ser dissociado do contexto social em que acontece.
Muitas organizações e empresas, bem como a Administração Pública, começam a perceber que interligar os participantes pode ser tão útil para a sua aprendizagem como ir a uma aula de formação. Percebem que as comunidades de prática são também um instrumento muito útil de aprendizagem.
- E em termos de mobilidade, as coisas ficam facilitadas quando se está online."

"- O que eu fiz foi passar da teoria para a prática. A comunidade de prática foi criada para analisar as situações com que nos deparamos. Mas o fenómeno dos agrupamentos é algo muito natural. As comunidades de prática sempre existiram, mesmo quando os povos estavam agrupados por tribos.
- As comunidades de prática representam a transição de uma sociedade onde há dominadores para uma sociedade em parceria, entre Iguais?
- Gostaria que assim fosse. Nas comunidades que funcionam de forma adequada, todos aprendem a ser melhores membros e o interesse crescente no compromisso entre pares faz a diferença na vida das pessoas.
O ideal é serem comunidades de prática que actuem em parceria, com vista a um bem comum. Porque uma comunidade de prática nem sempre é garantia de ser uma coisa boa. "Veja-se o caso do Ku Klux Klan. Nessa comunidade de prática, eles aprendem a odiar melhor."

"As comunidades de prática criam curriculum. Aprendemos imenso uns com os outros", sublinha. E desengane-se quem pensa que o único resultado consiste na ferramenta de trabalho que foi criada. Porque as emoções também são partilhadas e saem enriquecidas.
As comunidades de prática são um processo de aprendizagem entre amigos. E, quando se está entre amigos, os conflitos podem ser produtivos. Uma comunidade com conflitos destrutivos não durará muito", adverte o consultor."

"Numa analogia com o casamento, Etienne Wenger reitera que uma comunidade de prática é uma entidade viva, tal como acontece com um casal. Depende do renovar constante da paixão, começa por tentativas, é voluntária, envolve responsabilidade e implica também esforço. "A própria relação evolui e reinventase. A razão pela qual estou agora com a minha mulher já não é a mesma que me juntou a ela", explica.
Com as comunidades de prática passa-se o mesmo. E a sua concretização depende de como corre o "primeiro encontro". Faz-se um convite interessante e dá-se o melhor, para que o outro queira repetir. Não é preciso partir com um plano de vida, porque a outra parte pode dizer que não está preparada para assumir esse compromisso tão cedo.
É algo que terá de evoluir naturalmente, até com ensinamentos procurados fora da comunidade, para que não estagne."

Agradecimentos ao João Mateus que chamou descobriu para este artigo.

Fonte: Carla Pedro, Jornal de Negócios, Quinta, 18/10/2007

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